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Profético, mas...
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( sol2070.in/2025/10/admiravel-mundo-novo/ )
Ao reler o clássico Admirável Mundo Novo (Brave New World, 1931, 312 pgs), de Aldous Huxley, fiquei dividido: ideias instigantes e prescientes, em uma estória que me pareceu desconjuntada.
O componente profético aparece na projeção fictícia de para onde a civilização humana se encaminha. Uma utopia biotecnológica onde todos os anseios materiais são atendidos, sem conflito ou dissidência, com um fator distópico gritante: as pessoas perdem a capacidade de pensar e sentir por si mesmas, talvez até a própria “humanidade”.
Um resumo em quadrinhos diz tudo:
Trecho da HQ de Jordan Lejuwaan que compara as distopias “1984”, de George Orwell, e “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley.
Ao contrário da distopia bota-no-pescoço de 1984, não é preciso reprimir ninguém à força em Admirável Mundo Novo. Basta o controle invisível de entregar o que as pessoas foram condicionadas a …
( sol2070.in/2025/10/admiravel-mundo-novo/ )
Ao reler o clássico Admirável Mundo Novo (Brave New World, 1931, 312 pgs), de Aldous Huxley, fiquei dividido: ideias instigantes e prescientes, em uma estória que me pareceu desconjuntada.
O componente profético aparece na projeção fictícia de para onde a civilização humana se encaminha. Uma utopia biotecnológica onde todos os anseios materiais são atendidos, sem conflito ou dissidência, com um fator distópico gritante: as pessoas perdem a capacidade de pensar e sentir por si mesmas, talvez até a própria “humanidade”.
Um resumo em quadrinhos diz tudo:
Trecho da HQ de Jordan Lejuwaan que compara as distopias “1984”, de George Orwell, e “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley.
Ao contrário da distopia bota-no-pescoço de 1984, não é preciso reprimir ninguém à força em Admirável Mundo Novo. Basta o controle invisível de entregar o que as pessoas foram condicionadas a desejar: prazer, entretenimento, consumismo e distrações diversas etc.
Mas, apesar de isso refletir bastante a atualidade, também não é possível dizer que nos livramos da ameaça da distopia orwelliana, com a atual renascença de autoritarismos velha-guarda, proto-fascistas.
O que achei desconjuntado é que as estórias humanas usadas para ilustrar essa utopia distópica parecem quase só isso mesmo: recursos didáticos, em que as personagens quase não disfarçam que são meios para transmitir ideias.
No distante futuro do romance, os conflitos foram todos resolvidos dividindo a humanidade em castas eugênicas, de comportamento e pensamento criados em laboratório. Não há mais mãe e pai, bebês nascem em linhas de montagem.
Isso ainda é reforçado por condicionamentos desde a infância: não questionar, não alimentar ideias diferentes, amar o sistema que os criou, desfrutar dos prazeres oferecidos etc. Há também uma droga perfeita, sem efeitos colaterais negativos: soma. Para afogar qualquer insatisfação ou ansiedade, em doses menores, ou satisfazer impulsos transcendentes, em doses maiores, em que as pessoas se fundem em transes coletivos, muitas vezes orgiásticos.
Li no clube do livro Contracapa, onde concordamos que as ideias do livro são dignas de um clássico.
Um dos temas que discutimos foi o emprego nessa ficção da sexualidade poligâmica sem tabus ou restrições como um instrumento para domesticar as pessoas. Como fazer sexo à vontade com praticamente quem se quiser poderia ser negativo?
Nessa sociedade, não apenas o sexo, mas todos os prazeres materiais são satisfeitos para evitar que as pessoas desejem coisas realmente perigosas para a doutrina vigente, como liberdade de pensamento ou aspirações que o sistema não entrega (como amor pela natureza, ou satisfações existencial e estética menos rudimentares). É por isso que a arte genuína também já não existe, apenas obras plastificadas e massificadas (um dos pontos que mais reflete nossa realidade).
O livro é 100% pessimista sobre o destino da humanidade, não há para onde correr. Mas o próprio autor se arrependeu desse retrato, entre outros elementos, como imaginar a alteração psicotrópica da consciência como algo apenas negativo.
O último romance que Huxley escreveu, A Ilha (1962), é o oposto ponto por ponto de sua distopia. Quando escreveu Admirável Mundo Novo, Huxley não via nenhuma esperança.
Com o tempo, mudou bastante de opinião, além de se tornar adepto da expansão psicodélica e místico laico (independente de religiões institucionalizadas), escreveu dois dos livros de não ficção mais influentes sobre experiências místicas comparadas — A Filosofia Perene (1945) — e psicodélicas — As Portas da Percepção (1954).
Já A Ilha é sobre a possibilidade real de uma sociedade perfeita. Igualitária, descentralizada (“kropotkiniana”), que propicia o florescimento de todo o potencial humano, entre diversos outros elementos.